Sérgio Carrara
Cientista Social formado pela Unicamp e doutor em Antropologia Social pelo Museu Nacional, éprofessor associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/Uerj) e membro do Laboratório Integrado em Diversidade Sexual e de Gênero, Políticas e Direitos (LIDIS/Uerj)
Abrasco: Qual é a importância de se debater as formas de discriminação social e suas repercussões na saúde?
Sérgio Carrara: Se tomarmos o conceito de saúde como definido pela OMS, que abarca o completo bem-estar físico-psíquico e social, não é possível ser saudável sendo alvo de preconceitos. Parece uma banalidade discutir esses impactos, mas, em certo sentido, é uma abordagem relativamente nova em termos de estudos mais sistemáticos, seja nas tentativas de quantificação como na produção de pensamentos mais refinados sobre esses impactos. Há vários planos nos quais o preconceito apresenta essa dimensão. A violência física é o mais imediato, mas há também a negligência. O preconceito pode matar diretamente, como pode também deixar morrer. Isto tem a ver diretamente com o sistema de saúde: como elas são acolhidas e atendidas nesse serviço e como as pessoas se dispõem ou evitam a procurar ajuda, por medo ou antecipação de posições preconceituosas e descriminadoras.
Abrasco: No debate da homossexualidade, ainda encontra-se forte os discursos acerca dos grupos de risco. Como o senhor vê este tema na perspectiva de uma saúde mais inclusiva?
Sérgio Carrara: Independentemente do conceito e dos debates acerca dos grupos de risco, desenhe-se no horizonte o silenciamento, ou seja, uma outra forma do preconceito na qual se nega a existência de um problema. Digo isso pois nem as ações do Ministério da Saúde em prol da prevenção de doenças entre homens que fazem sexo com homens, como é apresentado pela terminologia oficial, estão acontecendo, tendo em vista que foi suspensa a campanha sobre o uso de preservativos que mostrava a troca de olhares entre dois homens.
Abrasco: Qual é a importância da Academia e das suas entidades científicas, como a Abrasco, debaterem os grandes temas sociedade em seus encontros, como no VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde?
Sérgio Carrara: O discurso da saúde é poderoso em vários planos, pois lida com questões que tocam imediatamente na vida das pessoas e aos interesses do Estado e dos governos. O Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da Abrasco será uma oportunidade para o campo da Saúde Coletiva se posicionar em relação a esses temas que estão na ordem do dia. O direito das mulheres e a questão do aborto aponta um retrocesso, com posições que vão se consolidando e ganhando espaço no Congresso Nacional, como a tentativa de acabar com o que já havia-se conquistado em termos do aborto legal. Um tema já consensuado no debate da saúde, pois é fácil mapear o número de mulheres internadas por conta de complicações com abortos ilegais, um número imenso. Já as questões relativas à homofobia trazem dados mais imprecisos, não se consegue medir tão claramente os números da violência, mas está aí, nas escolas e nos serviços de saúde. O debate LGBT em saúde é um debate em gestação e este é o momento para que esta questão seja melhor trabalhada em busca de ações mais democráticas.
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