14/10/2013

Site com relatos de vítimas de estupro na França atrai mais de mil depoimentos em um mês

(BBC Brasil) Um site francês em que pessoas relatam ter sido vítimas de estupros cometidos por familiares ou amigos ganhou grande repercussão na França e já recebeu mais de mil depoimentos apenas um mês após seu lançamento.

No site Je Connais un Violeur ("Eu conheço um estuprador", em tradução livre), os depoimentos das vítimas são anônimos e os agressores não podem ser identificados.

"O objetivo é mostrar que os estupradores não são apenas marginais ou loucos que atacam em ruelas sombrias ou estacionamentos escuros. Isso corresponde a uma minoria. Na maior parte dos casos, os estupradores são parentes, namorados ou amigos", disse à BBC Brasil Pauline (que não quis divulgar o sobrenome), criadora do site.

Segundo o site, que se baseia em estatísticas de associações ligadas ao tema, como Unidos Contra o Estupro, em 80% dos casos a vítima conhece o estuprador. E um terço das agressões sexuais é cometido por maridos ou parceiros regulares.

"Não existe um perfil típico do estuprador. Ele pode ser qualquer um e de qualquer meio social: um homem casado, um irmão, um bom amigo ou um vizinho", afirma Pauline.

"É dentro de casa que ocorre a maioria dos estupros", diz.

No site, há também vítimas masculinas, como um homem que afirma ter sofrido abusos sexuais na infância cometidos por uma babá.

Pauline, que integra a direção da ONG Ouse o Feminismo, diz ter ficado surpresa com o grande número de relatos recebidos logo após a criação do site, no final de agosto.

"Eu sei que o estupro é algo bem mais comum do que se imagina, mas é um assunto tabu e normalmente as vítimas violentadas por pessoas conhecidas preferem não falar a respeito ou têm dificuldades para reconhecer que tenham sofrido uma agressão", afirma.

"Algumas pessoas até duvidam que tenham sido estupradas pelo fato de não terem sido ameaçadas com uma arma", diz Pauline.

Ação judicial
Segundo ela, vários depoimentos feitos no site são de pessoas que contaram pela primeira vez ter sofrido um estupro. "Outras comentaram com algumas pessoas, que não acreditaram ou minimizaram o problema", afirma.

Foi o que ocorreu com a francesa Fanny, de 27 anos, que contou à BBC Brasil ter sido estuprada aos 16 anos por dois amigos e novamente aos 22 anos por um namorado.

"Na época, não falei abertamente sobre as agressões porque me sentia culpada. Cada vez que comentava o assunto, as pessoas desdramatizavam o ocorrido. O site me deu a chance de ser mais livre para falar a respeito e percebi que meu caso não é isolado", afirma Fanny.

"Eu me dizia para parar de ficar triste e aceitar o que aconteceu. Mas percebi, ao ver histórias parecidas com a minha, que é importante reconhecer que foi um estupro".

"Hoje constato que deveria ter tomado uma atitude", diz Fanny, que após relatado sua história diz que irá em breve entrar com uma ação na Justiça contra seus agressores.

Desmistificação
Émilie, de 26 anos, também contou no site a agressão sexual que sofreu há sete anos, cometida por um antigo namorado.
"O site é um canal de comunicação importante para pessoas que, como eu, demoram para admitir que sofreram um estupro. Eu mesma minimizei o ocorrido na época. Foi um choque e não sabia como agir", afirmou à BBC Brasil.

"Comentei o assunto com algumas pessoas, mas não tive apoio. Me sentia culpada", conta.
"O site desmistifica o estupro e mostra que os estupradores não são apenas psicopatas ou bandidos. As pessoas podem se identificar com as experiências relatadas", afirma Émilie.

Ela diz não se sentir psicologicamente capaz de enfrentar um processo contra seu agressor.
"Tenho receio de perder a ação. Além disso, foi há sete anos, não há provas, será a minha palavra contra a dele", diz.
"Mas para mim já é importante o fato de poder falar a respeito", afirma.

Os depoimentos publicados no site não contêm os detalhes das cenas dos estupros. Detalhes das ações dos agressores também não são mencionados.
"Isso é para evitar que os relatos alimentem fantasias de pervertidos sexuais", diz Pauline.

Acesse o PDF: Site com relatos de vítimas de estupro atrai mais mil depoimentos em um mês (BBC Brasil, 08/10/2013)

 

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Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Revelar nossa intimidade num contexto social de enorme preconceito não é uma tarefa fácil. E ainda existe o medo do uso dos aparelhos (como o espéculo) para aquelas que não sofrem penetração nas suas relações sexuais.


Embora não seja possível estimar quantas vão aos consultórios, pois não existe a possibilidade de informação da orientação sexual no prontuário médico, apontamos para a falta de um espaço adequado para dialogarmos sobre nossas dúvidas e práticas sexuais.

A falta de acolhimento por parte do corpo de profissionais de saúde na rede pública, somadas ao medo da rejeição e ao preconceito efetivamente existente, faz com que muitas dentre nós saiamos dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinhas masculinas.

Sem orientação adequada algumas acham que só desenvolvem câncer de útero mulheres quem têm relações heterossexuais, deixando de prestar atenção a um fator de aumento de risco para aquelas que nunca tiveram uma gravidez e desconsiderando a necessidade de fazerem os exames e a prevenção de DSTs/AIDS.

Temos necessidade de efetivar o plano nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida para todas as mulheres, sejam lésbicas, bissexuais, transexuais ou heterosexuais.

No consultório médico não entra o preconceito e ali TODAS SÃO BEM VINDAS!

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Principais Resultados da Pesquisa

  • Pesquisa revela tensão, por parte dos médicos, entre a noção de homossexualidade como distúrbio hormonal ou doença psíquica e a necessidade de aderir a um discurso “politicamente correto” de não discriminação.

  • No caso das mulheres os dados indicam que a saúde em geral é um tema delicado porque envolve experiências de discriminação e expectativas de desconforto, particularmente em relação à consulta ginecológica.

  • As mulheres mais masculinas tendem a evitar os médicos, recorrendo aos serviços de saúde, em geral, apenas nas situações em que se percebem incapacitadas para o trabalho ou para realizarem atividades cotidianas.

  • A abordagem das questões de prevenção faz pouco sentido para as entrevistadas lésbicas porque elas não percebem riscos nas suas práticas sexuais. Além disso, o tema desperta tensões no que diz respeito ao imperativo da fidelidade conjugal e a própria afirmação de uma identidade lésbica.

  • Há um pacto de silêncio a respeito da homossexualidade: os profissionais não falam sobre este assunto por medo de invadir a privacidade ou discriminar as pacientes, ou simplesmente porque não se sentem capacitados (tecnicamente) para abordar o assunto.

  • Já as mulheres têm receio de serem tratadas com distinção e alimentam dúvidas quanto à necessidade dessa informação durante a consulta, o que as faz silenciar sobre sua orientação e práticas sexuais.
  • O Resultado disso é uma consulta impessoal, que não reconhece a diferença das mulheres lésbicas e bissexuais, com pacientes acuadas pelo medo da discriminação explícita e um silêncio de ambas as partes que afasta as mulheres lésbicas, sobretudo as mais masculinizadas dos consultórios do SUS.

  • As consultas não raro resultam em receitas de contraceptivos e indicação de uso de camisinhas masculinas, o que faz com que as mulheres, invisibilizadas, não retornem ao consultório médico.


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