04/07/2013

A dor invisível

Gurias: Este é o primeiro texto de uma série sobre dependências químicas e sofrimento mental entre mulheres. São poucos os artigos com recorte de gênero, daí minha iniciativa.

Regina Abrahão *

Assunto bem difícil este que teimei em escolher. Afinal, para falar sobre drogadição, campanhas, prevenção danos provocados e mais aspectos ainda o que não nos faltam são informações genéricas, trazidas pela mídia, por revistas de caráter, digamos, técnico.


Temos os assombrosos números da violência para corroborar quaisquer conclusões acerca da realidade, enxergamos nas madrugadas os pervas(¹) desfilando seus olhos arregalados, buscando, de alguma forma remediar o sofrimento da abstinência.

O que deixamos de enxergar é o que me preocupa. As mulheres que acompanham estes pervas, e mesmo junto a eles são absorvidas pela invisibilidade que antes os negros, os índios, os gays, os portadores de necessidades especiais. 

A 2ª Guerra foi palco e incubadora para várias drogas. Estadunidenses recebiam tabaco e uísque, alemães se mantinham alertas consumindo anfetaminas e soviéticos aqueciam-se com vodca.

Em outras guerras outras drogas já tiveram seu uso, mas aqui o importante é ressaltar o uso das drogas ditas lícitas, o álcool, anfetaminas e tabaco. A propósito, na Alemanha nazista mulheres fumantes eram mal vistas e geralmente descartadas enquanto procriadoras. Os impostos sobre o cigarro eram altos, e seu uso desaconselhado.

Com o fim da guerra, com a volta dos soldados estadunidenses, o tabaco e o cigarro tiveram seu uso popularizado. Como parte do plano Marshall, os EUA repassavam, na forma de contrabando, cerca de 70 toneladas anuais de tabaco para a Alemanha. E se antes da guerra mulheres fumantes eram consideradas de má fama, na década de 50 já eram aceitas como liberais. Também o uso de álcool era tolerado e por vezes glamourizado, desde que respaldado por uma companhia masculina.

Grupos de homens bebendo após o trabalho, em comemorações, para aliviar tensões sempre foram vistos com naturalidade. E as mulheres? Não é possível obtermos índices confiáveis sobre alcoolismo entre mulheres nas décadas de 50 e 60 por uma razão simples: Mulheres só bebiam socialmente e acompanhadas. Os truques eram muitos. Destilados em garrafas de vinagre ou detergente, o mascar constante de balas, cravos, e alho, a "soneca" depois do almoço que durava quase até a noite. O tabaco, mais aceito e não tão desmoralizante, acompanhava o álcool. 

Também os anorexígenos, à base de anfetaminas e os barbitúricos, depois substituídos pelos benzodiazepínicos. Todas elas drogas legais, lícitas, fazendo girar a economia e a indústria farmacêutica.

Nos anos 60, com a disseminação da heroína, LSD e outras drogas, ficou explícito seu uso por homens e mulheres. Mas quando a sociedade ou a polícia se referia aos usuários, na ficção, na literatura, eram os homens que percorriam as estradas, contestavam valores, viciavam-se. 
O efeito das drogas no organismo da mulher é bem mais intenso do que nos homens. 

O tempo de tratamento, o grau de dependência e a letalidade também são maiores. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2012, SP, duas em cada dez mulheres costumam abusar regularmente do álcool. Paradoxalmente, apenas sete das oitenta vagas do Caps (Centro Psicossocial de Atenção ao abuso de Drogas e/ou Álcool) são ocupadas por mulheres.

Os dados contrastam com a média dos levantamentos feitos por institutos, universidades e o próprio CAPS.De acordo com o levantamento realizado pelo Centro de informações de Saúde e Álcool (http://www.cisa.org.br/), a proporção de mulheres maiores de 18 anos que consumia bebidas alcoólicas era de uma para cada sete homens. Hoje, o número é igual. 

É necessário entender os fatores sociais, econômicos, profissionais, aliados ao preconceito e a vergonha em admitir a dependência. Afora o fato que muitas mulheres, enquanto maridos ou afeto buscam tratamento, mantém casa e família com os recursos da prostituição, o que praticamente inviabiliza o tratamento próprio.

Pervas – usuários de crack que só saem à noite, oferecendo e cobrando as companheiras em troca de drogas.

Regina Abrahão - Secretária de Comunicação CUT Metropolitana RS

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SUA SEXUALIDADE É ASSUNTO SEU, SUA SAÚDE É ASSUNTO NOSSO!


Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Revelar nossa intimidade num contexto social de enorme preconceito não é uma tarefa fácil. E ainda existe o medo do uso dos aparelhos (como o espéculo) para aquelas que não sofrem penetração nas suas relações sexuais.


Embora não seja possível estimar quantas vão aos consultórios, pois não existe a possibilidade de informação da orientação sexual no prontuário médico, apontamos para a falta de um espaço adequado para dialogarmos sobre nossas dúvidas e práticas sexuais.

A falta de acolhimento por parte do corpo de profissionais de saúde na rede pública, somadas ao medo da rejeição e ao preconceito efetivamente existente, faz com que muitas dentre nós saiamos dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinhas masculinas.

Sem orientação adequada algumas acham que só desenvolvem câncer de útero mulheres quem têm relações heterossexuais, deixando de prestar atenção a um fator de aumento de risco para aquelas que nunca tiveram uma gravidez e desconsiderando a necessidade de fazerem os exames e a prevenção de DSTs/AIDS.

Temos necessidade de efetivar o plano nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida para todas as mulheres, sejam lésbicas, bissexuais, transexuais ou heterosexuais.

No consultório médico não entra o preconceito e ali TODAS SÃO BEM VINDAS!

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Principais Resultados da Pesquisa

  • Pesquisa revela tensão, por parte dos médicos, entre a noção de homossexualidade como distúrbio hormonal ou doença psíquica e a necessidade de aderir a um discurso “politicamente correto” de não discriminação.

  • No caso das mulheres os dados indicam que a saúde em geral é um tema delicado porque envolve experiências de discriminação e expectativas de desconforto, particularmente em relação à consulta ginecológica.

  • As mulheres mais masculinas tendem a evitar os médicos, recorrendo aos serviços de saúde, em geral, apenas nas situações em que se percebem incapacitadas para o trabalho ou para realizarem atividades cotidianas.

  • A abordagem das questões de prevenção faz pouco sentido para as entrevistadas lésbicas porque elas não percebem riscos nas suas práticas sexuais. Além disso, o tema desperta tensões no que diz respeito ao imperativo da fidelidade conjugal e a própria afirmação de uma identidade lésbica.

  • Há um pacto de silêncio a respeito da homossexualidade: os profissionais não falam sobre este assunto por medo de invadir a privacidade ou discriminar as pacientes, ou simplesmente porque não se sentem capacitados (tecnicamente) para abordar o assunto.

  • Já as mulheres têm receio de serem tratadas com distinção e alimentam dúvidas quanto à necessidade dessa informação durante a consulta, o que as faz silenciar sobre sua orientação e práticas sexuais.
  • O Resultado disso é uma consulta impessoal, que não reconhece a diferença das mulheres lésbicas e bissexuais, com pacientes acuadas pelo medo da discriminação explícita e um silêncio de ambas as partes que afasta as mulheres lésbicas, sobretudo as mais masculinizadas dos consultórios do SUS.

  • As consultas não raro resultam em receitas de contraceptivos e indicação de uso de camisinhas masculinas, o que faz com que as mulheres, invisibilizadas, não retornem ao consultório médico.


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