12/04/2013

O Racismo é caso de Saúde Pública

Por Mabia Barros
O presente texto é uma reflexão em cima de dois textos: Como o racismo é ruim para os nossos corpos (em inglês) e Jornais brasileiros separam racismo de violência, além de minha experiência sobre o jornalismo na Bahia.
O texto da The Atlantic chama a atenção para um aspecto muito pouco observado do impacto de atos racistas nas nossas vidas: estudos publicados em revistas como The American Journal of Public Health comprovam que a discriminação comprovadamente aumentam os riscos de casos de hipertensão, depressão, estresse, problemas cardiovasculares, câncer de mama e a mortalidade. Kathryn Freeman Anderson fez um estudo, em 2004, para mensurar o quanto o racismo afeta a saúde das pessoas, incluindo ai a incidência de partos prematuros.
Foram analisados mais de 30 mil pacientes em no Sistema de Vigilância para Fatores de Risco e ela descobriu que 18% dos participantes negros havia sofrido estresse emocional e 10% deles estresse físico no período analisado. E o estresse, aqui, é sentido duas vezes. Não só porque por si só já faz mal ao corpo, mas pela tendência que temos de compensar sentimentos ruins com comida, álcool ou outras substâncias.
Um outro teste foi feito para comprovar a relação do estresse causado por discriminação e as doenças do corpo. Separou um grupo alunas e quis comparar latinas com brancas (estas eram treinadas pelos pesquisadores). Assim, pediu para que cada uma delas respondesse a um questionário sobre comportamento, incluindo perguntas sobre estereótipos raciais. Algumas das brancas deram respostas racistas, outras não. Daí pediram para as latinas preparassem um discurso de três minutos sobre "Como sou como parceira de trabalho" para apresentar a uma possível parceira de laboratório, branca.
Elas foram monitoradas em frequência cardíaca, eletrocardiograma e cardiografia de impedância. Antes de escrever, elas leram as respostas de suas parceiras. Quando pensavam que estava escrevendo para uma parceira de laboratório branca e racista, a pressão era mais alta, a frequência cardíaca também. A mera possibilidade de racismo já desencadeia uma resposta de estresse no organismo. Imagina quem vive sob constante ameaça?
José Soares Menezes receitou a Adriana Santos cadeados para emagrecer. Racismo e Sexismo. Imagem: Reprodução. José Soares Menezes receitou a Adriana Santos cadeados para emagrecer. Racismo e Sexismo. Imagem: Reprodução.
Em debate na corte dos Estados Unidos está a política da polícia de lá, chamada "Pare e Reviste", cujo alvo, em sua maioria, são homens negros e latinos. Além dos problemas de direitos humanos, as revistas e a perfilização racial dos "suspeitos" causa danos na autoestima e traumatizam toda uma comunidade. Ainda assim, números mostram que 90% dos homens negros e latinos revistados pela polícia eram inocentes. Mas o medo fica incutido nas pessoas, que tem medo de serem os próximos. Casos de abusos sexuais, violência física, humilhações e ameaças acompanham as revistas policias naquele país.
Em NY chegaram ao ponto de haver mais paradas e revistas de jovens negros que o número de jovens! Mas não é só lá. Por aqui também vivemos com medo. Quantos não foram os casos de homens negros mortos pela polícia por terem sido confundidos com bandidos? Também temos essa discriminação tão enraizada em nossas vidas que achamos que é normal sermos tratados assim, vivermos com medo. Afinal, nas ruas, nas escolas, a polícia e a mídia nos trata assim, de forma a estigmatizar a população negra.
Mas ao menos uma realidade está mudando. Muito por esforço e trabalho da ANDI e do coletivo de jornalistas daqui de Salvador, o racismo velado nas publicações e matérias, especialmente em jornal impresso, estão mudando de enfoque. Apesar de, em geral, os jornais brasileiros separarem violência de racismo, não se dando conta de que muitos dos sujeitos e vítimas destas notícias são negros e pardos, algumas mudanças já se notam. Para começar, a seção deixou de se chamar Polícia para Segurança Pública. Depois que também tem se considerado a violência urbana como, inicialmente, um epidêmico caso de saúde pública.
O número de mortes é muito alto para se noticiar apenas como violência. Com isso é com muito orgulho e senso de que ainda há muito a ser feito que vejo o jornal A Tarde, daqui de Salvador, como o que mais notícias sobre racismo teve entre 2007 e 2010, mais de 200 textos. Na pesquisa da ANDI cinco jornais diários de circulação nacional e 40 de abrangência regional ou local foram analisados. Depois do A Tarde, o jornal com mais textos sobre racismo foi O Estado de São Paulo.
Com apoio das fundações Ford e W. K. Kellogg, a pesquisa no Brasil levantou mais de 1602 notícias. Nestas, apenas 3% citam chacinas ou violência contra a população negra. 12% das notícias foram sobre assuntos culturais ou de interesse nacional, 3,5% de economia. Apesar de tudo, os espaços nos jornais de grande circulação nacionais ainda são os que mais debatem questões raciais.  A construção deste espaço foi atribuída, pela pesquisa, aos movimentos sociais, com destaque para a o Movimento Negro. Os temas costumam ser as políticas afirmativas e dados e reflexões sobre desigualdade de raça/etnia. Um bom exemplo disso é a última capa da Isto É, sobre o sucesso das cotas no Brasil.
Fonte: Jornal Áfrikas

leia: http://fuxicodeterreiro.blogspot.com

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SUA SEXUALIDADE É ASSUNTO SEU, SUA SAÚDE É ASSUNTO NOSSO!


Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Revelar nossa intimidade num contexto social de enorme preconceito não é uma tarefa fácil. E ainda existe o medo do uso dos aparelhos (como o espéculo) para aquelas que não sofrem penetração nas suas relações sexuais.


Embora não seja possível estimar quantas vão aos consultórios, pois não existe a possibilidade de informação da orientação sexual no prontuário médico, apontamos para a falta de um espaço adequado para dialogarmos sobre nossas dúvidas e práticas sexuais.

A falta de acolhimento por parte do corpo de profissionais de saúde na rede pública, somadas ao medo da rejeição e ao preconceito efetivamente existente, faz com que muitas dentre nós saiamos dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinhas masculinas.

Sem orientação adequada algumas acham que só desenvolvem câncer de útero mulheres quem têm relações heterossexuais, deixando de prestar atenção a um fator de aumento de risco para aquelas que nunca tiveram uma gravidez e desconsiderando a necessidade de fazerem os exames e a prevenção de DSTs/AIDS.

Temos necessidade de efetivar o plano nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida para todas as mulheres, sejam lésbicas, bissexuais, transexuais ou heterosexuais.

No consultório médico não entra o preconceito e ali TODAS SÃO BEM VINDAS!

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Principais Resultados da Pesquisa

  • Pesquisa revela tensão, por parte dos médicos, entre a noção de homossexualidade como distúrbio hormonal ou doença psíquica e a necessidade de aderir a um discurso “politicamente correto” de não discriminação.

  • No caso das mulheres os dados indicam que a saúde em geral é um tema delicado porque envolve experiências de discriminação e expectativas de desconforto, particularmente em relação à consulta ginecológica.

  • As mulheres mais masculinas tendem a evitar os médicos, recorrendo aos serviços de saúde, em geral, apenas nas situações em que se percebem incapacitadas para o trabalho ou para realizarem atividades cotidianas.

  • A abordagem das questões de prevenção faz pouco sentido para as entrevistadas lésbicas porque elas não percebem riscos nas suas práticas sexuais. Além disso, o tema desperta tensões no que diz respeito ao imperativo da fidelidade conjugal e a própria afirmação de uma identidade lésbica.

  • Há um pacto de silêncio a respeito da homossexualidade: os profissionais não falam sobre este assunto por medo de invadir a privacidade ou discriminar as pacientes, ou simplesmente porque não se sentem capacitados (tecnicamente) para abordar o assunto.

  • Já as mulheres têm receio de serem tratadas com distinção e alimentam dúvidas quanto à necessidade dessa informação durante a consulta, o que as faz silenciar sobre sua orientação e práticas sexuais.
  • O Resultado disso é uma consulta impessoal, que não reconhece a diferença das mulheres lésbicas e bissexuais, com pacientes acuadas pelo medo da discriminação explícita e um silêncio de ambas as partes que afasta as mulheres lésbicas, sobretudo as mais masculinizadas dos consultórios do SUS.

  • As consultas não raro resultam em receitas de contraceptivos e indicação de uso de camisinhas masculinas, o que faz com que as mulheres, invisibilizadas, não retornem ao consultório médico.


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