24/07/2013

Cresce as preocupações com a saúde da mulher negra no Estado do Piauí

O que há de diferente em relação à saúde da mulher negra? É o primeiro questionamento quando se discute a saúde e as condições deste público em especial.
Para a presidente do Instituto da Mulher Negra do Piauí – Ayabás – Halda Regina, a mulher negra sofre pelo menos dois tipos de preconceito, o racial e o de gênero, onde ela considera que há uma diferença significativa entre mulheres negras e não negras, principalmente na qualidade da saúde física e mental.
"Logicamente esta diferença social afeta diretamente a saúde da mulher negra. Nós mulheres negras somos pretensas a termos pressão alta, por conta também da nossa condição: desemprego, chefes de família, condição social, dificuldades de ascensão, dentre outros, além da própria violência sofrida por mulheres negras em seu ambiente de trabalho (assédio), péssimo atendimento nos postos de saúde, e sobre a gravidez, quando no momento do parto, segundo relato de algumas mulheres, o atendimento a estas é demorado, por conta do estigma que nós somos mais fortes e resistimos mais tempo às dores".
Impropérios como esses são ignorados em razão de uma falsa sensação de igualdade, como a pergunta que inicia esta matéria. A saúde da mulher negra está diretamente associada ao racismo e principalmente o tipo institucional, ainda de acordo com a presidente do Ayabás.
"Diversas mulheres precisam diariamente se impor para combater a discriminação racial e de gênero e garantir às mulheres negras um atendimento de saúde digno".
Além do abandono institucional, existem riscos de doenças físicas maiores nesta população, como hipertensão arterial, anemia falciforme, câncer de colo do útero, câncer de mama, diabetes mellitus, doença inflamatória pélvica, lúpus eritematoso sistêmico, miomas ou fibromas.

Dificuldades na atenção à saúde

"Uma das dificuldades é orientar estas mulheres no sentido de denunciar as práticas discriminação racial nos serviços de saúde e de capacitar os profissionais de saúde sobre os temas de raça, saúde e gênero sob a perspectiva dos direitos humanos", desabafa Halda Regina.
Não existem políticas públicas direcionadas no Piauí ou em Teresina, tampouco dados sobre a situação da saúde da mulher negra no Piauí. O que se sabe é que atualmente um dos principais problemas das mulheres é a violência a qual são submetidas, seja a agressão sexual ou psicológica.
"Em nível nacional existem políticas voltadas para a população negra, além de decretos onde apontam para cada Estado criar um comitê técnico de saúde da população negra, para que haja eficácia nas ações voltadas para este fim.
A criação dentro das Secretarias de Saúde de uma equipe para coordenação de equidade, onde esta política está inserida. Alguma cartilhas foram já publicadas pelo Ministério da Saúde (MS) junto com a Secretaria Especial de Politicas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Mas muitas mulheres continuam morrendo por falta de atendimento, formação e informação", explica Halda Regina.
Sobre a criação de políticas exclusivas em Teresina, a vereadora Rosário Bezerra, que possui grande representatividade nesta discussão dentro da capital, explica que ainda não há nada específico, mas que os debates já iniciaram.
"Já estamos realizando seminários com entidades ligadas à saúde da mulher negra para a elaboração de projetos específicos, até porque existem especificidades raciais e doenças que incidem mais sobre as mulheres negras. Esta mulher é atendida nas unidades de saúde com outro olhar.
Ela não é examinada como deveria e não recebe a atenção que merece. O diagnóstico nem sempre é aprofundado e as consultas são feitas de forma mais rápida que as outras, sem a mesma preocupação", enfatiza.

Afroresiliências e saúde psicológica

Afroresiliência, um neologismo criado pela professora e psicóloga Luciênia Martins no desenvolvimento de sua a tese de doutorado 'Afrorresilientes: a resiliência de mulheres afrodescendentes de sucesso educacional', tendo como principal problemática a capacidade da mulher negra em lidar com os desafios impostos pelo preconceito.
"Estudar a resiliência em mulheres afrodescendentes é uma tentativa de conhecer de forma sistemática os fatores psicológicos que favorecem a superação de situação de adversidade. De acordo com os números do IBGE, estes obstáculos não são poucos.
A afroresiliência trata de uma temática relevante e muito recente advinda da Psicologia Positiva, focalizada na perspectiva das mulheres afrodescendentes de Teresina. Apesar de não ser conhecida por muitos, a resiliência é vivida, de uma forma ou de outra, por cada um de nós", esclarece a pesquisadora Lucienia Martins.
O fator psicológico é outro ponto relevante da discussão sobre saúde feminina na população negra. Além das condições socioeconômicas, propensão maior a agravos de ordem genética, as violências as quais são mais impostas afetam gradualmente a saúde mental. A psicóloga e pesquisadora Lucienia destaca mais este aspecto em seu estudo.
"Ao que se refere à saúde emocional, são elas que mais sofrem violência doméstica, envolvem-se em situações de risco pela falta de oportunidade secularmente institucionalizada.
Mesmo com os avanços para próxima geração diante dos anos de escravismo criminoso, ainda há muitas consequências que precisam ser reparadas. A resiliência estudada é uma excelente defesa psicológica contra as agressões impostas pela sociedade contemporânea racista, sem confundi-la com insensibilidade ou conformismo ou, ainda, com resignação.
Isso implica dizer que resiliência na vida dessas mulheres deve ser percebida como um processo para crescimento, de positividade, ou melhor, de fortalecimento para situações estressoras que acontecerão", define.

FONTE:  Meio Norte 

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SUA SEXUALIDADE É ASSUNTO SEU, SUA SAÚDE É ASSUNTO NOSSO!


Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Revelar nossa intimidade num contexto social de enorme preconceito não é uma tarefa fácil. E ainda existe o medo do uso dos aparelhos (como o espéculo) para aquelas que não sofrem penetração nas suas relações sexuais.


Embora não seja possível estimar quantas vão aos consultórios, pois não existe a possibilidade de informação da orientação sexual no prontuário médico, apontamos para a falta de um espaço adequado para dialogarmos sobre nossas dúvidas e práticas sexuais.

A falta de acolhimento por parte do corpo de profissionais de saúde na rede pública, somadas ao medo da rejeição e ao preconceito efetivamente existente, faz com que muitas dentre nós saiamos dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinhas masculinas.

Sem orientação adequada algumas acham que só desenvolvem câncer de útero mulheres quem têm relações heterossexuais, deixando de prestar atenção a um fator de aumento de risco para aquelas que nunca tiveram uma gravidez e desconsiderando a necessidade de fazerem os exames e a prevenção de DSTs/AIDS.

Temos necessidade de efetivar o plano nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida para todas as mulheres, sejam lésbicas, bissexuais, transexuais ou heterosexuais.

No consultório médico não entra o preconceito e ali TODAS SÃO BEM VINDAS!

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Principais Resultados da Pesquisa

  • Pesquisa revela tensão, por parte dos médicos, entre a noção de homossexualidade como distúrbio hormonal ou doença psíquica e a necessidade de aderir a um discurso “politicamente correto” de não discriminação.

  • No caso das mulheres os dados indicam que a saúde em geral é um tema delicado porque envolve experiências de discriminação e expectativas de desconforto, particularmente em relação à consulta ginecológica.

  • As mulheres mais masculinas tendem a evitar os médicos, recorrendo aos serviços de saúde, em geral, apenas nas situações em que se percebem incapacitadas para o trabalho ou para realizarem atividades cotidianas.

  • A abordagem das questões de prevenção faz pouco sentido para as entrevistadas lésbicas porque elas não percebem riscos nas suas práticas sexuais. Além disso, o tema desperta tensões no que diz respeito ao imperativo da fidelidade conjugal e a própria afirmação de uma identidade lésbica.

  • Há um pacto de silêncio a respeito da homossexualidade: os profissionais não falam sobre este assunto por medo de invadir a privacidade ou discriminar as pacientes, ou simplesmente porque não se sentem capacitados (tecnicamente) para abordar o assunto.

  • Já as mulheres têm receio de serem tratadas com distinção e alimentam dúvidas quanto à necessidade dessa informação durante a consulta, o que as faz silenciar sobre sua orientação e práticas sexuais.
  • O Resultado disso é uma consulta impessoal, que não reconhece a diferença das mulheres lésbicas e bissexuais, com pacientes acuadas pelo medo da discriminação explícita e um silêncio de ambas as partes que afasta as mulheres lésbicas, sobretudo as mais masculinizadas dos consultórios do SUS.

  • As consultas não raro resultam em receitas de contraceptivos e indicação de uso de camisinhas masculinas, o que faz com que as mulheres, invisibilizadas, não retornem ao consultório médico.


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