05/12/2011

CARTA DA 14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE À SOCIEDADE BRASILEIRA

CARTA DA 14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE À SOCIEDADE BRASILEIRA
Todos usam o SUS: SUS na Seguridade Social! Política Pública, Patrimônio do
Povo Brasileiro Acesso e Acolhimento com Qualidade: um desafio para o SUS.
Nestes cinco dias da etapa nacional da 14ª Conferência Nacional de Saúde reunimos 2.937 delegados e 491 convidados, representantes de 4.375
Conferências Municipais e 27 Conferências Estaduais.
Somos aqueles que defendem o Sistema Único de Saúde como patrimônio do povo
brasileiro.
Punhos cerrados e palmas! Cenhos franzidos e sorrisos.
Nossos mais fortes sentimentos se expressam em defesa do Sistema Único de Saúde.
Defendemos intransigentemente um SUS Universal, integral, equânime,descentralizado e estruturado no controle social.
Os compromissos dessa Conferência foram traçados para garantir a qualidade
de vida de todos e todas.
A Saúde é constitucionalmente assegurada ao povo brasileiro como direito de todos e dever do Estado. A Saúde integra as políticas de Seguridade Social,
conforme estabelecido na Constituição Brasileira, e necessita ser fortalecida como política de proteção social no País.
Os princípios e as diretrizes do SUS - de descentralização, atenção integral e participação da comunidade - continuam a mobilizar cada ação de usuários, trabalhadores, gestores e prestadores do SUS.
Construímos o SUS tendo como orientação a universalidade, a integralidade, a igualdade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde.
O SUS, como previsto na Constituição e na legislação vigente é um modelo de reforma democrática do Estado brasileiro. É necessário transformarmos o SUS previsto na Constituição em um SUS real.
São os princípios da solidariedade e do respeito aos direitos humanos fundamentais que garantirão esse percurso que já é nosso curso nos últimos
30 anos em que atores sociais militantes do SUS, como os usuários, os
trabalhadores, os gestores e os prestadores, exercem papel fundamental na
construção do SUS.
A ordenação das ações políticas e econômicas deve garantir os direitos
sociais, a universalização das políticas sociais e o respeito às diversidades etnicorracial, geracional, de gênero e regional. Defendemos, assim, o desenvolvimento sustentável e um projeto de Nação baseado na
soberania, no crescimento sustentado da economia e no fortalecimento da base
produtiva e tecnológica para diminuir a dependência externa.
A valorização do trabalho, a redistribuição da renda e a consolidação da democracia caminham em consonância com este projeto de desenvolvimento, garantindo os direitos constitucionais à alimentação adequada, ao emprego, à moradia, à educação, ao acesso à terra, ao saneamento, ao esporte e lazer, à cultura, à segurança pública, à segurança alimentar e nutricional integradas às políticas de saúde.
Queremos implantar e ampliar as Políticas de Promoção da Equidade para
reduzir as condições desiguais a que são submetidas as mulheres, crianças,
idosos, a população negra e a população indígena, as comunidades
quilombolas, as populações do campo e da floresta, ribeirinha, a população
LGBT, a população cigana, as pessoas em situação de rua, as pessoas com
deficiência e patologias e necessidades alimentares especiais.
As políticas de promoção da saúde devem ser organizadas com base no
território com participação inter-setorial articulando a vigilância em saúde
com a Atenção Básica e devem ser financiadas de forma tripartite pelas três
esferas de governo para que sejam superadas as iniqüidades e as
especificidades regionais do País.
Defendemos que a Atenção Básica seja ordenadora da rede de saúde,
caracterizando-se pela resolutividade e pelo acesso e acolhimento com
qualidade em tempo adequado e com civilidade.
A importância da efetivação da Política de Atenção Integral à Saúde da
Mulher, a garantia dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos, além da
garantia de atenção à mulher em situação de violência, contribuirão para a
redução da mortalidade materna e neonatal, o combate ao câncer de colo
uterino e de mama e uma vida com dignidade e saúde em todas as fases de
vida.
A implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
deve estar voltada para o entendimento de que o racismo é um dos
determinantes das condições de saúde. Que as Políticas de Atenção Integral à
Saúde das Populações do Campo e da Floresta e da População LGBT,
recentemente pactuadas e formalizadas, se tornem instrumentos que contribuam
para a garantia do direito, da promoção da igualdade e da qualidade de vida
dessas populações, superando todas as formas de discriminação e exclusão da
cidadania, e transformando o campo e a cidade em lugar de produção da saúde.
Para garantir
o acesso às ações e serviços de saúde, com qualidade e respeito às
populações indígenas, defendemos o fortalecimento do Subsistema de Atenção à
Saúde Indígena. A Vigilância em Saúde do Trabalhador deve se viabilizar por
meio da integração entre a Rede Nacional de Saúde do Trabalhador e as
Vigilâncias em Saúde Estaduais e Municipais. Buscamos o desenvolvimento de
um indicador universal de acidentes de trabalho que se incorpore aos
sistemas de informação do SUS. Defendemos o fortalecimento da Política
Nacional de Saúde Mental e Álcool e outras drogas, alinhados aos preceitos
da Reforma Psiquiátrica antimanicomial brasileira e coerente com as
deliberações da IV Conferência Nacional de Saúde Mental.
Em relação ao financiamento do SUS é preciso aprovar a regulamentação da
Emenda Constitucional 29. A União deve destinar 10% da sua receita corrente
bruta para a saúde, sem incidência da Desvinculação de Recursos da União
(DRU), que permita ao Governo Federal a redistribuição de 20% de suas
receitas para outras despesas. Defendemos a eliminação de todas as formas de
subsídios públicos à comercialização de planos e seguros privados de saúde e
de insumos, bem como o aprimoramento de mecanismos, normas e/ou portarias
para o ressarcimento imediato ao SUS por serviços a usuários da saúde
suplementar. Além disso, é necessário manter a redução da taxa de juros,
criar novas fontes de recursos, aumentar o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) para a saúde, tributar as grandes riquezas, fortunas e
latifúndios, tributar o tabaco e as bebidas alcoólicas, taxar a movimentação
interbancária, instituir um percentual dos royalties do petróleo e da
mineração para a saúde e garantir um percentual do lucro das empresas
automobilísticas.
Defendemos a gestão 100% SUS: sistema único e comando único, sem
"dupla-porta", contra a terceirização da gestão e com controle social amplo.
A gestão deve ser pública e a regulação de suas ações e serviços deve ser
100% estatal, para qualquer prestador de serviços ou parceiros. Precisamos
contribuir para a construção do marco legal para as relações do Estado com o
terceiro setor. Defendemos a profissionalização das direções, assegurando
autonomia administrativa aos hospitais vinculados ao SUS, contratualizando
metas para as equipes e unidades de saúde. Defendemos a exclusão dos gastos
com a folha de pessoal da Saúde e da Educação do limite estabelecido para as
Prefeituras, Estados, Distrito Federal e União pela Lei de Responsabilidade
Fiscal e lutamos pela aprovação da Lei de Responsabilidade Sanitária.
Para fortalecer a Política de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde é
estratégico promover a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras em
saúde, investir na educação permanente e formação profissional de acordo com
as necessidades de saúde da população, garantir salários dignos e carreira
definida de acordo com as diretrizes da Mesa Nacional de Negociação
Permanente do SUS, assim como, realizar concurso ou seleção pública com
vínculos que respeitem a legislação trabalhista. e assegurem condições
adequadas de trabalho, implantando a Política de Promoção da Saúde do
Trabalhador do SUS.
Visando fortalecer a política de democratização das relações de trabalho e
fixação de profissionais, defendemos a implantação das Mesas Municipais e
Estaduais de Negociação do SUS, assim como os protocolos da Mesa Nacional de
Negociação Permanente em especial o de Diretrizes Nacionais da Carreira
Multiprofissional da Saúde e o da Política de Desprecarização. O Plano de
Cargos, Carreiras e Salários no âmbito municipal/regional deve ter como base
as necessidades loco-regionais, com contrapartida dos Estados e da União.
Defendemos a adoção da carga horária máxima de 30 horas semanais para a
enfermagem e para todas as categorias profissionais que compõem o SUS, sem
redução de salário, visando cuidados mais seguros e de qualidade aos
usuários. Apoiamos ainda a regulamentação do piso salarial dos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Controle de Endemias (ACE), Agentes
Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN) com
financiamento tripartite.
Para ampliar a atuação dos profissionais de saúde no SUS, em especial na
Atenção Básica, buscamos a valorização das Residências Médicas e
Multiprofissionais, assim como implementar o Serviço Civil para os
profissionais da área da saúde. A revisão e reestruturação curricular das
profissões da área da saúde devem estar articuladas com a regulação, a
fiscalização da qualidade e a criação de novos cursos, de acordo com as
necessidades sociais da população e do SUS no território.
O esforço de garantir e ampliar a participação da sociedade brasileira,
sobretudo dos segmentos mais excluídos, foi determinante para dar maior
legitimidade à 14ª Conferência Nacional de Saúde. Este esforço deve ser
estendido de forma permanente, pois ainda há desigualdades de acesso e de
participação de importantes segmentos populacionais no SUS.
Há ainda a incompreensão entre alguns gestores para com a participação da
comunidade garantida na Constituição Cidadã e o papel deliberativo dos
conselhos traduzidos na Lei nº 8.142/90. Superar esse impasse é uma tarefa,
mais do que um desafio.
A garantia do direito à saúde é, aqui, reafirmada com o compromisso pela
implantação de todas as deliberações da 14ª Conferência Nacional de Saúde
que orientará nossas ações nos próximos quatro anos reconhecendo a
legitimidade daqueles que compõe os conselhos de saúde, fortalecendo o
caráter deliberativo dos conselhos já conquistado em lei e que precisa ser
assumido com precisão e compromisso na prática em todas as esferas de
governo, pelos gestores e prestadores, pelos trabalhadores e pelos usuários.

Somos cidadãs e cidadãos que não deixam para o dia seguinte o que é
necessário fazer no dia de hoje. Somos fortes, somos SUS.
COMISSÃO ORGANIZADORA DA 14ª CNS
Brasília, DF, 04/12/2011

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SUA SEXUALIDADE É ASSUNTO SEU, SUA SAÚDE É ASSUNTO NOSSO!


Mulheres lésbicas e bissexuais sentem-se inibidas em procurar ajuda do ginecologista. Revelar nossa intimidade num contexto social de enorme preconceito não é uma tarefa fácil. E ainda existe o medo do uso dos aparelhos (como o espéculo) para aquelas que não sofrem penetração nas suas relações sexuais.


Embora não seja possível estimar quantas vão aos consultórios, pois não existe a possibilidade de informação da orientação sexual no prontuário médico, apontamos para a falta de um espaço adequado para dialogarmos sobre nossas dúvidas e práticas sexuais.

A falta de acolhimento por parte do corpo de profissionais de saúde na rede pública, somadas ao medo da rejeição e ao preconceito efetivamente existente, faz com que muitas dentre nós saiamos dos consultórios com recomendações para usar pílulas anticoncepcionais ou camisinhas masculinas.

Sem orientação adequada algumas acham que só desenvolvem câncer de útero mulheres quem têm relações heterossexuais, deixando de prestar atenção a um fator de aumento de risco para aquelas que nunca tiveram uma gravidez e desconsiderando a necessidade de fazerem os exames e a prevenção de DSTs/AIDS.

Temos necessidade de efetivar o plano nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a assistência ginecológica de qualidade e atenção à saúde integral em todas as fases da vida para todas as mulheres, sejam lésbicas, bissexuais, transexuais ou heterosexuais.

No consultório médico não entra o preconceito e ali TODAS SÃO BEM VINDAS!

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Principais Resultados da Pesquisa

  • Pesquisa revela tensão, por parte dos médicos, entre a noção de homossexualidade como distúrbio hormonal ou doença psíquica e a necessidade de aderir a um discurso “politicamente correto” de não discriminação.

  • No caso das mulheres os dados indicam que a saúde em geral é um tema delicado porque envolve experiências de discriminação e expectativas de desconforto, particularmente em relação à consulta ginecológica.

  • As mulheres mais masculinas tendem a evitar os médicos, recorrendo aos serviços de saúde, em geral, apenas nas situações em que se percebem incapacitadas para o trabalho ou para realizarem atividades cotidianas.

  • A abordagem das questões de prevenção faz pouco sentido para as entrevistadas lésbicas porque elas não percebem riscos nas suas práticas sexuais. Além disso, o tema desperta tensões no que diz respeito ao imperativo da fidelidade conjugal e a própria afirmação de uma identidade lésbica.

  • Há um pacto de silêncio a respeito da homossexualidade: os profissionais não falam sobre este assunto por medo de invadir a privacidade ou discriminar as pacientes, ou simplesmente porque não se sentem capacitados (tecnicamente) para abordar o assunto.

  • Já as mulheres têm receio de serem tratadas com distinção e alimentam dúvidas quanto à necessidade dessa informação durante a consulta, o que as faz silenciar sobre sua orientação e práticas sexuais.
  • O Resultado disso é uma consulta impessoal, que não reconhece a diferença das mulheres lésbicas e bissexuais, com pacientes acuadas pelo medo da discriminação explícita e um silêncio de ambas as partes que afasta as mulheres lésbicas, sobretudo as mais masculinizadas dos consultórios do SUS.

  • As consultas não raro resultam em receitas de contraceptivos e indicação de uso de camisinhas masculinas, o que faz com que as mulheres, invisibilizadas, não retornem ao consultório médico.


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